- ECO NATIVA
Apocalipse já!
Da perspectiva do senso comum, a campanha Apocalipse já pode parecer estranha. Tipo coisa de maluco. Mas um olhar mais atento possibilitará perceber na proposta algo viável, embora desafiador. E o desafio está em conseguir transpor a névoa do comum.

Vejamos do que se trata. Circula pela rede uma mensagem trazendo lista de seis características de pessoas de “coração maldoso”, salientando que o relacionamento com tais “pessoas de coração maldoso nos prejudica em todas as áreas da vida e nos impede de evoluir”. A que ponto chegamos!
A tal lista de características em si não chama a atenção, pois são comportamentos reprováveis como, por exemplo, distorcer fatos, mentir, enganar, etc. O que assusta é a ligação direta feita com naturalidade entre estes comportamentos reprováveis e o rótulo pessoal de corações maldosos, o que poderíamos caracterizar como maldade no mínimo de igual tamanho, não fosse pela provável inconsciência de quem o faz.
Sim, porque nós, os supostamente de corações puros, fazemos isso o tempo todo, inconscientemente instigando a separação daqueles supostamente de corações maldosos.
Talvez tenha chegado a hora do Apocalipse e do juízo final. Não da maneira que provavelmente o leitor está pensando, do Apocalipse como tragédia coletiva e do juízo final como a corte que nos sentenciará o destino para o resto da eternidade. Para Dom Ruiz Miguel, juízo final é o último julgamento que alguém faz de si e de qualquer outra pessoa.
Pronto! Está criado o fim do mundo. Não em termos catastróficos materialistas, é claro, mas pela erupção de um desmoronamento psíquico. Ao parar de julgar, todo o mundo interior conhecido, violento, cruel, de sofrimento e angústias, desaparece para dar lugar a outro onde cada um tem direito de viver a livre expressão de seu alcance possível, de seu presente na evolução, sendo o que é, sem rótulos, sem títulos, sem culpas, sem medos.
Então, vamos dar voz à campanha?
Apocalipse já! Pelo fim dos tempos de violência por meio do não julgamento.
Apocalipse já! Pelo protagonismo da própria existência e abandono da vitimação decorrente de ocorrências supostamente divinas ou satânicas.
Apocalipse já! Pelo assumir responsável do livre-arbítrio e do poder criador que Deus nos outorgou.
Apocalipse já! Pela criação de um mundo fraterno, pacífico e amoroso onde o perdão seja absolutamente desnecessário.
Paulo Rathunde
Este e outros textos semelhantes você encontra no livro Peregrino - A Saga de um Eu Governado por Outros.